segunda-feira, 25 de julho de 2011

Edição nº64


Editorial

Fechamos a terceira temporada do Fazendo com os resultados do concurso ‘Fazes?’, promovido em parceria com a ES Manuel de Arriaga. Mais umas vez contámos com uma excelente participação dos alunos e recebemos um variadíssimo leque de trabalhos. Da fotografia mais simples a montagens mais ou menos elaboradas, da colagem ao desenho, vários géneros de trabalhos gráficos e uma surpreendente dose de propostas de cariz interventivo espelham a diversidade de abordagens que nos foram submetidas.

Com este concurso pretendemos também criar uma janela entre a escola e o resto da comunidade ao dar a oportunidade aos estudantes a criar trabalhos que poderão saltar para fora do âmbito escolar. Neste sentido, para além do trabalho vencedor patente na capa desta edição, são seleccionados alguns trabalhos que serão expostos em vários outdoors espalhados pela cidade.Envolver, estimular, discutir, promover. São estas as linhas que têm orientado o Fazendo ao longo dos últimos 3 anos e que ambicionamos continuar a seguir no futuro. Sempre com mais pessoas, mais ideias, maior diversidade e maior dinamismo. Um grande bem haja a todos os colaboraram neste projecto, a todos os que nos contactaram com ideias e propostas e que nos abordam com palavras de estímulo ou de crítica e que nos ajudaram a melhorar. O Fazendo é um organismo colectivo e dinâmico que vive da envolvimento e colaboração de todas as partes.

O nosso e-mail é o vai.se.fazendo@gmail.com, os sites fazendofazendo.blogspot.com e facebook.com/assoc.fazendo, o telefone 967567254 e cremos que não será difícil encontrar-nos num qualquer ponto da cidade da Horta. Até Setembro.

Fazendo


Colaboradores:



Capa: Rui Morisson
Arquitectura e Artes Plásticas: Ana Correia, Hortaludus

Teatro e Cinema: Luís São Bento
Literatura: Paulo Mendes
Ciência: Carla Dâmaso
Gatafunhos: Tomás Silva



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sexta-feira, 1 de julho de 2011

Edição nº63



Crónica
Devagar que estou com pressa
A história de uma viagem para ler sem pressa


Sol. Chuva. Sol. Chuva. Sol. E mais uma volta à ilha. Velocidade média: 27,5 km/h, alternada entre 15 km/h, em subidas, e 40 km/h, em descidas. Tempo de viagem: duas horas e meia, mas poderia ter sido um pouco menos, não fosse aquele tractor que calmamente desfilou, à nossa frente, durante um terço do caminho. Meio de transporte: veículo apelidado de “Meireles”, com grave problema de ejecção e totalmente abstraído de conceitos como “aceleração” e/ou “velocidade”. Viajantes: três jovens raparigas, para quem, o facto de habitarem num planeta redondo, com vulcões, não passava de uma lembrança remota.

No meio do Atlântico, há um lugar.

Um lugar que, para alguns é a casa, para outros um porto de paragem e para outros, ainda, um parêntesis na sua vida. Esse lugar está coberto por um pano verde, malhado às vacas, pontilhado por hortênsias e rematado de areias pretas que, de tão negras, iluminam o ciano do mar. Nesse mesmo lugar, há vulcões. Vulcões vivos. Sim, porque os geólogos disseram- -nos que os vulcões não morrem, só adormecem, e que o seu cume pode abater abrindo uma caldeira como esta, no cimo do pano — uma provocadora de cartasses, um elogio à natureza e, ao que chamamos, de forma tão abstracta, paisagem. No alto dessa caldeira, há uma linha. Um limbo percorrível que separa esse elogio de todo o resto.

Nesse todo o resto, a interromperem um horizonte não horizontal mas sim curvo como o mundo, vêem-se estendidas outras ilhas que são outros lugares com outras vidas, outras vacas e outros vulcões. Num desses vulcões cresceu, no seu topo, um piquinho. Um dia, esse piquinho passou a ser o nosso o objectivo. Subimos, então. Subimos. Subimos. Até que, num momento, parámos. Olhámos para trás. E, de um amigo coberto de branco, escutámos: “olhem a ilha de bruma”. De facto, lá estava ela, à nossa frente, esparramada em forma de tartaruga, protegida por uma carapaça de nuvens densas, compactas... E o sol se pôs atrás da tartaruga. Veio a noite. O vento e o frio.

A mãe natureza no seu estado puro, duro e líquido. Fingimos que dormimos. Acordámos. Na madrugada, o sol surgiu por cima das nuvens. Abaixo de nós, um manto branco intransponível a olho nu. E ali estávamos nós, a cumprir as fantasias de uma infância onde sonhávamos andar sobre as nuvens. Mas, nas nuvens não se anda, quanto muito atravessa-se; e uma inocente imagem não é a natureza. E lá está: o frio queima, a humidade molha e o vento dói. A natureza dilacera-nos e nós nos sentimos vivos. Vivos, vamos à procura de outras ilhas, à procura de outros lugares, de outras pessoas. Em frente, do outro lado do canal, uma espinha dorsal, emergida do mar, transforma-se num novo objectivo. Fez-se planos mas, no erro do plano, a surpresa aconteceu. Então, entre o cinzento do céu e verde da terra, aprendemos sobre os vulcões, os sismos e os tsunamis. De repente, o tempo imensurável torna-se curto e temos de voltar à ilha de bruma.

Entre as ondas, a feliz coincidência: o reencontro entre pessoas. Desse reencontro, um convite. Desse convite, um jantar. E, no fim, num extasiante curto espaço de tempo, lá estávamos todos nós sentados à mesa de uma casa, neste lugar, no meio do Atlântico.

Sara Orsi





Colaboradores:


Capa: Aurora Ribeiro, Jácome Armas, Tomás Silva
Arquitectura e Artes Plásticas: OMA
Literatura: Miguel Machete
Ciência: Sílvia Lino e PNF
Gatafunhos: Tomás Silva


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