terça-feira, 27 de setembro de 2011

Edição nº65




Crónica
A Megalomania do Fazendo

O Fazendo - um conjunto de 8 pequenas folhas e, quem diria, com estatuto de Sr. jornal, publicado quinzenalmente e impresso apenas 400 vezes por edição para uma população mundial de 6 biliões de leitores - tem, apesar da sua aparente pequenez, tendência para a elaboração de planos megalómanos, irracionais e de incrível ousadia. Ilustremos com um exemplo: o Fazendo pensa que os Açores são uma só ilha. Imaginem então o espanto de qualquer um quando o Fazendo diz que os barcos servem apenas para andar à roda. Perguntam-lhe: ouviste falar da viagem terrível do cruzeiro do canal quando este ia do Faial para o Pico? O Fazendo fica confuso porque sempre que olha para o Pico não vê mar e, quando olha para o cruzeiro do canal, está sempre encalhado. O paradoxo, explica-se, reside na raiz do conceito de ‘distância’ entre uma coisa e outra. As pessoas pensam que ‘distância’ se mede em metros, quilómetros ou milhas mas não é bem assim. A ‘distância’ entre uma e qualquer outra coisa é relativa: depende da vontade. Se a vontade é pouca há mais mar e menos terra e se a vontade é muita há mais terra e menos mar. É por isso que o Fazendo diz, de quando a quando, que um dia, durante uma travessia do Faial ao Pico, os 400 metros de profundidade do canal se vão reduzir a 10 centímetros, o cruzeiro vai encalhar sem o mestre Almeida entender bem porquê e as pessoas vão calçar as suas melhores botas de cano ou montar as suas vacas mais robustas e continuar a travessia até ao Pico. Ainda assim, mais tarde aparece um espertalhão que exclama: a distância pode reduzir-se mas cada ilha continuará pintada da mesma cor. É verdade, a cada ilha a sua côr: o Faial é azul, a Graciosa é branca, o Pico é cinzento... o problema é que o Fazendo sofre de um agudo e extremo daltonismo. Mostram-lhe uma bandeira azul e ele vê uma verde, mostram-lhe uma amarela e ele vê uma vermelha, e por aí fora. A discussão foi sempre tanta que o Fazendo resolveu comprar uns óculos da Ray Ban, da mais alta categoria, com os quais qualquer cor aparece como a junção de todas as cores e tudo aquilo que não tem cor não aparece. Resumindo, a megalomania ingénua do Fazendo tem como objectivo pegar em nove pequenos pedaços de terra e fazer deles um só, sem cantos, sem partes e sem bandeiras. Esta 4a versão do Fazendo com um design fresco, elegante e moderno, cuidadosamente criado por Lia Goulart, é um pequeno passo na direcção de encalhar o cruzeiro do canal. A partir de agora a grande e majestosa agenda cultural que se encontra no verso do jornal será conjunta com a programação cultural do Pico, onde constará também o horário das lanchas. Mas não é tudo. As portas estão abertas no que diz respeito a colaboradores e coordenadores residentes ou naturais da ilha do Pico e mais além, como a artistas e designers. Entretanto, a tiragem aumentou para 500 exemplares, alguns dos quais serão transportados por couriers, treinados na arte de Moisés, até ao Pico. Para além de projectos megalómanos, o Fazendo tem uma agenda escondida de menor escala: a de reduzir a distância entre as pessoas através da colaboração e cooperação conjunta. Com este propósito foi introduzido no jornal uma temática extra com o intuito de dar lugar a intervenções artísticas, poemas, divagações inter-galácticas ou de promover a plena e simples discussão do panorama actual. Convidamos, como sempre, todos os interessados a participarem e esperamos que novos laços se criem, novas ideias se formem e que a vontade cresça.

Jácome Armas



Colaboradores:

Capa: Lia Goulart
Crónica: Cristina Lourido
Arquitectura e Artes Plásticas: Diana Santos e Jesse James Moniz
Ciência: Sílvia Lino
Intervenção: Catarina Krug
Música: Victor Rui Dores
Diferenças: Mano

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