sexta-feira, 20 de março de 2009

Edição nº13



Crónicazinha...

PEDIDO À CAMARA MUNICIPAL

Seguindo o repto da Câmara Municipal da Horta, desde há um ano que separo escrupulosamente todos os resíduos que produzo. Para um lado vão os vidros, para outro os resíduos de embalagens plásticas, para um terceiro grupo, o papel e o cartão, e para um final os chamados indiferenciados. Por aquilo que consegui observar no último ano, em termos de volume, cerca de um terço dos meus lixos vão para o aterro e os outros dois terços vão para a Central de Triagem. Em termos de peso, não é assim. Tirando o vidro, de facto, as embalagens são, por definição leves, portanto, em termos de peso, o resultado é o inverso. Talvez não seja relevante, mas é apenas para termos uma ideia. Porque o meu trabalho me permite saber isso, posso partilhar que este padrão se repete por todos os Açores. Um terço dos nossos resíduos são realmente indiferenciados.

Não gosto da palavra "indiferenciado". É um pouco estranho falar em "indiferenciados"... Dá ideia que somos incompetentes. Nada é indiferenciado. O que lá está pode ser distinguido facilmente, basta olhar para identificar os sub-componentes. É apenas uma forma confortável de dizer que isto já não dá para mais nada. Inverdade! Estava então eu aqui a pensar com os meus botões "o que é que vai para os indiferenciados?" ou "porque é que não posso aproveitar um pouco melhor ainda os chamados indiferenciados?" Para encontrar a resposta tive que fazer um trabalho sujo... Mergulhei no caixote do lixo e comecei a verificar o que é que lá estava dentro. Como dizem os americanos, "é um trabalho sujo, mas alguém tem que o fazer!". Por falar nisso, e já que estou a falar na Câmara Municipal da Horta, aqui vai o meu muito reconhecido e agradecido "muito obrigado" para os seus trabalhadores que recolhem o lixo e os que trabalham no Centro de Triagem e no Aterro Sanitário. Não é um trabalho fácil e, graças a vós, temos uma grande qualidade de vida!

Estava então eu a abrir o saco de plástico com os meus lixos e a fazer o respectivo inventário. Encontrei muitas fraldas de bebé... usadas... Bahhh, que nojo. Odeio aquele cheiro! Havia também areão de gato, tecidos velhos, um botão partido, pó e pelos de gato, resultado da limpeza da casa, e resíduos orgânicos. Primeira constatação: bela triagem! Este é um lar ecológico, não havia qualquer resíduo que pudesse ter aproveitamento pelas outras vias. Em termos do que está institucionalizado pela Câmara Municipal, estou a cumprir. No entanto, será que podia ir mais longe? Estamos numa ilha pequena e, portanto, não há grandes hipóteses de aproveitar energeticamente os pelos de gato, o pó, o botão partido e os velhos tecidos. Lamento, mas no Faial, essa parte terá mesmo de ir para o aterro. Já em relação às fraldas do bebé, sei que estão empresas a tentar entrar no mercado para assegurar o seu processamento. Tenho dúvidas que comecem pelo Faial, visto que o mercado é pequeno (temos poucos bebés...), mas logo que entrem nos Açores, por favor, cativem-nos para virem também ao Faial recolher fraldas usadas.

A outra componente é constituída pelos chamados "orgânicos". Para reduzir esta componente, ela terá que ter um destino útil. Sei que a Câmara Municipal tem compostores em alguns dos seus jardins públicos. Ou seja, há locais disponíveis na nossa cidade em que são colocados alguns dos resíduos orgânicos que são depois transformados em solo ou fertilizante. Excelente! Agora, aqui vai o meu pedido: "por favor, indiquem-me que resíduos posso colocar nos vossos compostores e onde é que eles estão colocados?" Por favor, digam-me. Já agora, digam também aos restantes faialenses que estejam (ou estão?) tão obcecados com a redução de "indiferenciados" como eu, talvez colocando um anúncio no jornal ou na rádio. Sei que coisas, como por exemplo restos de carne, não podem ir para os compostores, mas, curiosamente, os restos de café podem. Confirmam?

Qual é o meu objectivo pessoal? O meu objectivo é atingir as metas europeias. Quero ter apenas 13% dos meus resíduos classificados como indiferenciados e depositados em aterro. Até lá, vou integrar a BALA, um grupo de acção directa urbana cujo o acrónimo significa Brigadas Anti Lixo dos Açores.


Frederico Cardigos



Colaboradores:

Ilustração: Pedro Gaspar
Grafismo: Ken Donald
Crónica: Frederico Cardigos
Gatafunhos: Tomás Silva
Chegadas: Aurora Ribeiro
Teatro: Aurora Ribeiro e Teatro de Giz
Arquitectura e Artes Plásticas: Ana Correia e Tomás Silva
Literatura: Ilídia Quadrado e Fernando Menezes
Ciência: Maria Carreiro e Silva
Ambiente: Dina Dowling
Saúde: Inês Martins



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