quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Edição nº 32



Crónica

E a criatividade expõe-se: Mostra LabJovem 2010


Hoje, dia 11 de Fevereiro, os nomes dos seleccionados da segunda edição do LABJOVEM – Concurso de Jovens Criadores dos Açores serão apresentados ao público. Depois da fase das candidaturas (de 1 de Maio a 2 de Novembro), e das reuniões dos júris (de 11 a 13 de Dezembro de 2009), chegou finalmente a altura de se conhecerem os seleccionados. A apresentação decorrerá no Teatro Faialense, no seu exterior e foyer, com a presença de duas instalações da autoria de André Sier, e com a actuação da banda de Jazz faialense Zeca Trio. O evento terá transmissão online através do site do concurso (http://www.labjovem.pt/).É com enorme prazer que assistirei ao final desta fase do Concurso e ao arranque de uma nova fase: a Mostra LABJOVEM 2010, na qual os trabalhos dos seleccionados serão apresentados, numa exposição itinerante, ao público açoriano e além-Açores. A Mostra arrancará oficialmente em Setembro, embora antes haverá a possibilidade da apresentação de alguns dos trabalhos seleccionados, como é o caso da Semana dos Açores, no Teatro São Luiz, em Lisboa, que recebe trabalhos da primeira e da segunda edição, de 2 a 7 de Março de 2010.
O prazer a que aludi é, ao mesmo tempo, um misto estranho de ansiedade e de regozijo. Regozijo porque acredito que este projecto (do Governo Regional dos Açores, através da Direcção Regional da Juventude) é um bom exemplo do quão importante é o estabelecimento de parcerias entre governo e associações civis, na persecução da promoção da criatividade juvenil – a Associação Cultural Burra de Milho, da qual sou presidente, tem sido a entidade organizadora deste concurso. E regozijo porque vejo neste projecto o resultado da vontade de se criarem mecanismos de promoção da criatividade, estruturas que fomentem a competitividade saudável entre os jovens artistas e, mais do que tudo, permitam o espaço para a diferença, para a contemporaneidade, para a aposta nos nossos jovens criativos regionais.A ansiedade surge depois, quando penso no tempo em que não existiam concursos de jovens criadores, nem mostras de trabalhos seleccionados, nem possibilidades para os jovens artistas se afirmarem no panorama cultural regional, quanto mais nacional ou internacional. Este concurso é um motor de exposição, uma plataforma de criatividade que tem como grande objectivo o de permitir que os nossos jovens possam não só criar livremente como também apresentar as suas criações e, quiçá, com essas apresentações, estabelecerem contactos para trabalhos futuros. Isto já aconteceu com a primeira edição, na qual alguns artistas tiveram encomendas de trabalhos criativos mercê da exposição pública de que gozaram durante a Mostra LABJOVEM 2008. E acredito que vai voltar a acontecer nesta segunda edição. E é esta crença, esta aposta nos jovens valores criativos açorianos, que nos move. A nós, Burra de Milho, ao Governo Regional dos Açores e à Direcção Regional da Juventude, o que interessa é que os jovens artistas tenham possibilidade de se fazer ouvir e ver, de conhecer, de evoluir, de criar sinergias e competências que lhes permitam ser mais e melhor, ir mais longe, criar mais.
É por isto que o prémio atribuído aos primeiros seleccionados de cada área a concurso não é em forma de dinheiro. É com esta ideia em mente que os primeiros seleccionados recebem uma bolsa de formação no estrangeiro, num local à sua escolha, no período do ano em que lhes melhor convier. Tivemos seleccionados da primeira edição em locais tão diferentes como Itália, Espanha, Reino Unido, Estados Unidos da América e Argentina. E no regresso, todos foram unânimes em afirmar que a experiência por que passaram foi não só agradável a nível pessoal como extremamente produtiva e enriquecedora a nível criativo.Através dos relatos dos jovens seleccionados (que acompanhámos de perto, embora ao longe), pudemos compreender o alcance de um concurso desta natureza; a urgência do desenvolvimento dos mecanismos de promoção da criatividade; a importância em se desenvolverem ainda outras plataformas e outros mecanismos que possam potenciar ainda mais este capital criativo açoriano que, ao longo da história, tantos e tão importantes nomes da cultura nos tem dado.Esta segunda edição destaca-se também pela introdução de algumas melhorias no formato do próprio concurso: com informação decorrente da primeira edição, realizou-se uma Residência Artística em torno das áreas que haviam tido menos concorrentes; introduziu-se a possibilidade de os jovens concorrerem através da Internet, tornando o processo de candidatura mais simples; descentralizaram-se actividades (residência na Terceira; reuniões dos Júris em São Miguel; apresentação dos resultados no Faial); transmitiu-se online e em directo, com recurso às Novas Tecnologias e à linguagem criativa contemporânea, apenas para citar alguns exemplos.Com o trabalho feito até agora, e com o muito que há para fazer, acredito que o concurso LABJOVEM será, no futuro, a plataforma de exposição por excelência para os jovens artistas dos Açores.

Rogério Sousa




Colaboradores:

Capa: Rapahel Calduch
Crónica: Rogério Sousa
Mini-entrevista: Aurora Ribeiro
Cinema e Teatro: Fausto Cardoso

Arquitectura e Artes Plásticas: Ana Correia, Paulo Oliveira
Literatura: Céu Brito, Ilídia Quadrado
Ciência e Ambiente: Parque Natural do Faial, Verónica Neves

Gatafunhos: Tomás Silva

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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Edição nº 31



Crónica


Por uma Democracia avançada


O Jornal Fazendo (Agenda Cultural Faialense) surgiu aqui na Horta, no dia 1 de Outubro de 2008, por iniciativa de jovens criativos e livres, assume-se como comunitário, não lucrativo e independente e visa, tal como é dito no primeiro número, constituir “uma plataforma de divulgação do que cá se faz”, para logo acrescentar “o que cá se faz na música, o que cá se faz no cinema, no teatro, na fotografia, na ciência e em tudo o mais”. O Jornal Fazendo tem não só cumprido muito bem esses objectivos, ao longo dos seus trinta números publicados, como os ultrapassou, sendo hoje uma referência criativa que muito contribui para a valorização da nossa comunidade e para a afirmação de uma cada vez maior capacidade colectiva de fazer, de construir e de transformar. Essa capacidade existe mas é por uns desvalorizada, por outros negada e por outros ainda obstruída. O Jornal Fazendo contraria a estagnação, nega a obstrução, afirma as muitas capacidades existentes e contribui para que elas se consolidem e desenvolvam.
Por tudo isto foi com natural satisfação que recebi do Jornal Fazendo o convite de colaborar neste número, tendo-me sido dito que tratasse o tema que entendesse. Entretanto insisti para que houvesse da parte do Jornal uma sugestão e ela veio no sentido de tratar “a possibilidade da concretização dos ideais comunistas hoje em dia e mais concretamente aqui no Faial”. Recebo a sugestão com inteira naturalidade e mesmo com satisfação, pois é público que a minha participação política foi sempre assumida como militante, que há muito sou, do PCP. Respondo ao desafio, mas alertando, desde logo, que este texto só pode pretender ser uma primeira reflexão sobre um tema muito vasto. Posto isto, ai vamos, fazendo….


Começo por dizer que como comunista que sou, luto por uma sociedade liberta da exploração do homem pelo homem, da opressão, desigualdades, injustiças e flagelos sociais, onde o desenvolvimento das forças produtivas, o progresso cientifico e tecnológico e o aprofundamento da democracia económica, social, política e cultural assegurarão aos cidadãos liberdade, igualdade, elevadas condições de vida, cultura, um ambiente ecologicamente equilibrado e respeito pela pessoa humana. É este o ideal comunista pelo qual luto, integrado num Partido que o assume de forma integral, desassombrada e sem concessões. É por este ideal comunista que muitos milhões de seres humanos lutam, sabendo embora que as pesadas derrotas, de várias naturezas, que contra ele se produziram ou foram induzidas, atrasam a luta, dão força à sua negação, alimentam divisionismos, inspiram oportunismos, solidificam desconfianças. O ideal comunista é um ideal de transformação profunda, que implica a transformação do próprio homem.


Lutar por esse ideal tem que ser lutar por todos os objectivos imediatos e de médio e longo prazo que possam contribuir para a construção de uma sociedade que, sendo democrática, seja também mais justa. Não se luta por esse ideal assumindo conformismos e praticando concessões.


Lutar por esse ideal implica defender todas as conquistas civilizacionais que foram sendo adquiridas pela humanidade. Implica defender todas as conquistas políticas que valorizam o papel da sociedade, a sua liberdade e os direitos individuais e colectivos adquiridos. Implica reconhecer o valor do trabalho enquanto modo de criar riqueza e enquanto forma de valorização pessoal. Implica a procura constante de formas mais justas de repartir a riqueza criada, de colocar ao serviço pleno da Humanidade a fulgurante evolução da ciência e da técnica a que assistimos. Implica o urgente aprofundamento da luta para anular os criminosos e sistemáticos atentados que se fazem todos os dias, à escala planetária, contra os equilíbrios ambientais, que são essenciais à vida.


Lutar por esse ideal implica uma luta permanente pela Paz, pelo direito dos Povos a existirem e a viver de acordo com as suas legítimas aspirações, pelos direitos individuais que deverão ter como limite os legítimos direitos das comunidades.Lutar por esse ideal, neste Mundo que está a ser alvo de uma globalização dominadora e destrutiva, obriga à luta pela preservação das especificidades que marcam os Povos, as comunidades e as várias formas de ser e de estar, associada a uma ideia clara de globalização construtiva, valorizadora da humanidade e respeitadora das diferenças.


Lutar hoje, no nosso Pais, pelos ideais que assumem os comunistas e que, pela sua natureza, são partilhados por muitos cidadãos, obriga a que se criem condições de verdadeira credibilização social desses valores, como valores autênticos e, necessariamente, substitutivos dos falsos valores hoje dominantes, que apelam a um individualismo feroz, a uma alienação massiva e que deitam mão a uma manipulação global sem precedente. O conceito de democracia avançada, criado e consagrado pelos comunistas portugueses deste nosso tempo, aparece como objectivo político pelo qual se luta e que visa atingir uma democracia que seja, simultaneamente, económica, social, política e cultural. Dar sentido à democracia política associando-lhe a justiça social; criar, sem manipulações, uma intensa e participada actividade cultural; enfrentar, com resolução, os múltiplos e graves problemas sociais, gerados, todos os dias, pela injustiça e exploração reinantes; consolidar uma nova forma de encarar as questões ambientais e a sua relação com as actividades produtivas; são, de entre outros, objectivos transformadores incluídos neste vasto programa político pelo qual luto.


Pensar estas questões, à escala da nossa Região Autónoma ou da nossa Ilha é não só motivador como pode ser mobilizador, uma vez que se torna mais fácil perceber, no concreto, quanto melhor seria!


Ser daqui e estar aqui tem que implicar, cada vez mais, um esforço continuado de transformação positiva, de concretização, na prática, dos valores que se diz defender e de combate aos constantes comportamentos dúplices a que todos assistimos. A sociedade tem que ganhar consciência de que os poderes políticos e sociais não podem ser exclusivo dos que sempre foram, ou dos que se transformaram, em carreiristas, cujo objectivo é, sempre, o de manter as situações e beneficiar com isso. Os poderes políticos, incluindo o poder local, têm que ser obrigados a perceber que existem para servir e não para serem a correia de transmissão dos interesses dominantes e dominadores que tudo condicionam e que procuram, em cada minuto que passa, tentar evitar transformações positivas.Não é racional pensar-se que o Mundo há-de ser sempre como hoje é! Lutar, com convicção e alegria, pelas rupturas e transformações que são precisas e urgentes, é o único caminho que podemos vislumbrar, no emaranhado de dificuldades e obstáculos que se nos apresentam. Esta ideia é válida em geral e é válida para esta nossa Terra, onde, quando nos convencermos que existe essa possibilidade, podemos viver bem melhor do que hoje acontece.


Sem qualquer espécie de triunfalismo e sem nervosismos inconsequentes, espero convictamente que este Povo possa voltar a erguer os cravos que já vi e possa voltar a fazer, com verdade, o V da Vitória.

José Decq Mota




Colaboradores:

Capa: David Garcia
Crónica: José Decq Mota
Música: Victor Rui Dores
Cinema e Teatro: Aurora Ribeiro
Lacuna: António Jorge da Câmara
Arquitectura e Artes Plásticas: Paulo Oliveira
Literatura: Carla Cook, Miguel Valente
Ciência e Ambiente: Vanda Carmo e Diana Catarino
Gatafunhos: Tomás Silva

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