segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Edição nº 53


Crónica

O Instituto Açoriano de Cultura
Desde a sua génese que o Instituto Açoriano de Cultura se ocupa e preocupa com a consolidação da sociedade açoriana, através da divulgação e do debate de temas ligados à contemporaneidade, no âmbito de um projecto cultural integrado e numa perspectiva de fortalecimento da massa crítica necessária ao desenvolvimento, a partir da “polis”, do nosso futuro colectivo.

Um dos vectores de acção que sempre nos acompanhou, tem sido a organização de seminários, colóquios e debates que, desde as primeiras “Semanas de Estudos”, têm permitido a abordagem consistente e fundamentada de matérias fulcrais e importantes para o entendimento da actualidade.

Outra das áreas de intervenção do IAC vem sendo a divulgação de artistas plásticos e respectivas obras, fazendo deslocar aos Açores exposições da maioria dos mais conceituados artistas nacionais, as quais foram apresentadas por todos o arquipélago açoriano, bem como o estudo e divulgação de obras de artistas açorianos, tais como o Arquitecto João Correia Rebelo, o Pintor José Nuno da Câmara Pereira, entre outros, para divulgação dentro e fora da Região.

No campo editorial, e na qualidade de maior editor regional, o IAC vem, ao longo das suas mais de cinco décadas de existência, mantendo uma actividade regular, destacando-se a Revista Atlântida, os livros do Inventário Imóvel dos Açores e muitas outras obras que estão maioritariamente disponíveis para o público interessado, em diversas livrarias ou através da nossa biblioteca virtual, que se encontra inserida no nosso site (www.iac-azores.org). Essas edições são distribuídas gratuitamente aos nossos associados activos.
Um dos projectos emblemáticos realizado por este Instituto foi a inventariação do património arquitectónico açoriano, desencadeado por um contrato firmado com o Governo Regional do Açores. Este foi desenvolvido nos últimos 13 anos, durante os quais se percorreram todas as ruas, de todas as freguesias dos 19 concelhos açorianos, identificando--se e inventariando-se todas as construções que, à luz de critérios técnicos e científicos, são consideradas exemplares e a proteger.

Outro dos nossos projectos-bandeira foi a produção e edição da primeira História dos Açores que, contando com a direcção científica de Artur Teodoro de Matos, Avelino de Freitas de Meneses e José Guilherme Reis Leite, foi concretizada com a elaboração de textos da autoria de três dezenas de especialistas em cada um dos períodos e áreas tratados. Esta obra, apresentada em dois volumes, retrata historicamente o arquipélago açoriano desde o seu povoamento até ao final do segundo milénio.

Tem sido ainda uma constante da nossa actividade a divulgação de temáticas e intervenientes tão díspares como a performance, a música contemporânea, as instalações… tornando difícil a definição exaustiva de uma instituição que nega e rejeita a si própria qualquer noção de confinamento físico, geográfico, ideológico ou temático. Estamos conscientes que a sobrevivência de estruturas como a nossa depende prioritariamente da importância que a sociedade envolvente lhe atribui. Sendo que, essa necessidade passará obrigatoriamente pelo serviço prestado e pelo contributo social concretizado.

Com esse objectivo e, como instituição de natureza associativa considerada de utilidade pública e sem fins lucrativos, que conta com um número de associados que ultrapassou no passado ano de 2010 a barreira do milhar, propomo- -nos a dar continuidade a esse projecto sempre actual de, através da cultura, reivindicarmos um papel activo e produtivo a nível regional, nacional e (porque não?) global.

Paulo Raimundo - IAC

Colaboradores:


Capa: "A Nebulosa Planetária da Hélice" de NASA, ESA, C.R. O’Dell, M. Meixner e P. McCullough
Ciência: Pedro Afonso
Arquitectura e Artes Plásticas: Ana Correia, Margarida Melo Fernandes
Música e Literatura: Victor Rui Dores
Cinema e Gatafunhos: Tomás Melo

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sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Edição nº 52


Crónica

Lisboa-Horta ou a razão de 2011
É Janeiro, início de um novo ano, as pessoas fazem desejos, têm esperança, prometem coisas, arriscam previsões, afiançam recomeços, elaboram metas, adormecem sobre as promessas de um 2011 melhor que o ano precedente. O que seria de nós se fossemos obrigados a ver o tempo como algo linear, se não tivéssemos esta sensação de novidade, o impulso de conferir sentido renovado aos dias do calendário que agora se inicia, esse desejo de ter coisas que possam recomeçar a cada instante? E como nós gostamos de ver surgir no tempo cronológico oportunidades novas, querenças e desafios em catadupa, por isso encaramos o nascimento de um ano como se de um outro ciclo se tratasse…

Avião de Lisboa para o mundo escrevia também o Alexandre O´Neill e nós aqui sentados numa cadeira de avião que nos transportará para um mundo salino e verdejante. Ainda que novamente sem conseguir escrever absolutamente o que quer que seja, isto é, quase nada. Não se importa de tirar tudo, repetia o segurança do aeroporto, não fosse transportar poemas em forma de explosivos para o arquipélago mais ocidental. Apetecia tanto dizer que há tanta poesia nas livrarias e nas bibliotecas que construiríamos uma ponte atlântica entre o continente e as ilhas e não seria necessário voar, por isso dá tanta vontade de engolir os livros, os cadernos e os poemas e guardá-los na memória para depois repeti-los a toda a hora a quem quisesse. Ou então permanecer em silêncio profundo, durante dias a fio sem nada para dizer, em retiro absoluto. À espera que o nevoeiro passe até que a palavra crise, agora vomitada e repetida até à náusea se cale em cada boca, em cada olhar, pois mesmo assim vamos desconhecendo, felizmente, o que escreveria Virgínia Woolf, a 5 de Janeiro de 1918: “Está tudo racionado, agora. A maioria dos talhos está fechada; o único talho que estava aberto foi cercado. Não se pode comprar chocolates, nem caramelos; as flores estão tão caras que tenho de apanhar folhas para as substituir. Temos senhas para a maioria. As únicas montras onde há abundância são as lojas de fanqueiros. Outras lojas exibem latas ou caixas de papelão, vazias sem dúvida. (…) Subitamente já se dá pela guerra em todo o lado. Suponho que deve haver ainda algumas ilhas de luxo, intactas, algures – talvez nas casas das quintas da Northumbria ou da Cornualha; mas a mesa das pessoas comuns está bem vazia. Os jornais, no entanto, florescem, e por seis dinheiros ficamos fornecidos de papel que chega para acender o lume durante uma semana.” E, finalmente, o avião a levantar… E, por vezes, lá vem o ensejo de ficar por aqui a ver o jogo e também jogar, pois quem não joga não ganha nem perde e há muito que sabemos que anda por aqui muita coisa errada. Apetecia-me por isso reencontrar a poesia à volta de Lisboa do Alexandre O´Neill e permanecer somente a olhar, a tentar ver se revejo aquele gesto ou então avião de Lisboa para o mundo, agora que eu sei que toda ou qualquer esperança já foi a enterrar. Resta-me apenas os dias claros de Agosto, a descoberta das árvores no Botânico pela manhã, o sossego estival do jardim do Príncipe Real, as ruas e ruelas de Alfama, enquanto for possível meditar ou esquecer tudo o que a memória – essa maldita – teima em querer guardar. E se ao menos houvesse duas nuvens de razão tocadas…

Fernando Nunes

Colaboradores:


Capa: "Cachalotes dos Açores" de Les Gallagher
Ciência: José Bettencourt
Arquitectura e Artes Plásticas: Ana Correia
Literatura: Eduardo Bettencourt Pinto
Gatafunhos: Tomás Silva

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