sábado, 3 de outubro de 2009

Edição nº23


Crónica


Uma vez li numa parede que a “A ética é estar à altura do que nos acontece” (Gilles Deleuze). Esta afirmação pode ser verdadeira para os tempos mais conturbados, onde naturalmente se esperam comportamentos éticos e épicos, mas também para os tempos mais calmos. Mesmo quando tudo está conturbado à nossa volta – no país e no mundo – é possível sentir, no Faial, que estamos numa ilha onde há tranquilidade, há paz.

Mas esse privilégio, o da “ilha de paz” pede que se faça algo. Assim, para estarmos à altura do que nos acontece, para estarmos à altura dessa paz, harmonia, beleza, que se nos oferece é desejável que algo se faça no sentido da manutenção desse estado. O fazer em prol de, o dar, não é um dever mas sim uma oportunidade que nos é concedida. Porque quando estamos a dar, quando temos essa oportunidade, temos também oportunidade de receber em satisfação, em sentido de cumprimento da nossa missão.

Nos Açores as dádivas por parte da paisagem são múltiplas: cada mergulho no mar é uma dádiva; cada pôr-do-sol no Pico é também uma dádiva; aqui o mar e a terra conjugam-se para criar uma paisagem viva, jovem, vibrante, em constante mutação, mas, ainda assim, com um carácter muito próprio. Como retribuir? Como dar à paisagem e assim assegurar um equilíbrio subtil feito da relação entre o homem e o meio natural?

Uma hipótese será através da resolução das fragilidades que essa paisagem apresenta e que são visíveis, por exemplo, na proliferação de vegetação invasora introduzida pelo homem. Este é um grave problema colectivo que requer um empenho colectivo, enquanto sociedade e governo, mas também individual.

E o empenho individual pode ser de molde a que cada um de nós decida dar algumas horas do seu tempo livre ao combate das invasoras em áreas protegidas, como é o caso da Paisagem Protegida do Monte da Guia. Este tipo de comportamento beneficia em primeira instância quem o tem, e beneficia, em segundo lugar, a paisagem.

Com a organização do Jardim Botânico do Faial e inserida na tese de doutoramento “A preservação do carácter da paisagem açoriana: aplicação em áreas protegidas nos Açores” está em preparação uma acção de voluntariado para erradicação de invasoras na Paisagem Protegida do Monte da Guia. Vamos ajudar?



Cláudia Gomes


Colaboradores:

Ilustração: Paulo Neves
Crónica: Cláudia Gomes
Entrevista: Aurora Ribeiro
Cinema: Aurora Ribeiro e Fausto Cardoso
Arquitectura e Artes Plásticas: Ana Correia e Pedro Monteiro
Literatura: Ilídia Quadrado
Ciência e Ambiente: Ana Pinela, Cláudia Gomes, Cristina Carvalhinho, Dina Dowling e João Melo


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2 comentários:

Júlio Correia da Silva disse...

Tenho acompanhado o Fazendo à distância mas com muito interesse. É, sem dúvida, uma publicação dirigida a um público local - "boletim do que por cá se faz" - mas eu, que estou longe, aprecio-o pelo cheiro a maresia que sinto ao folheá-lo. É, de facto, um espaço de liberdade.
Há dias tive acesso à edição n.º 23 que, a nível de conteúdo, mantém a continuidade. Já graficamente houve uma ruptura. Acho que se perdeu a coerência que havia entre forma e conteúdo. O jornal apresentava-se, graficamente, solto, irreverente, inovador. Na capa, o título, de número para número, saltava de um local para outro. Agora, enquadrado por uma linha de texto em baixo e outra em cima está aprisionado, ou, pelo menos, com amarras. Também os números das páginas passaram a estar dentro de quadrados, também eles aprisionados. A cor também se perdeu. Acho que o jornal envelheceu. Não digo que a linha gráfica seja pior. O que digo é que é menos adequada ao conteúdo e à mensagem que o jornal quer (penso eu) transmitir.
Claro que aquilo que está em causa é a forma. Poderá dizer-se: "mas a forma é a embalagem, o que interessa é o que está lá dentro". Eu discordo. A forma é, ela própria, conteúdo.
Talvez tenha exagerado nas palavras que utilizei. De facto, penso que, mesmo como está, o Fazendo é uma excelente publicação. Mas, gostando eu tanto do Fazendo, não me contento com um prato raso, anseio um prato com cogulo.

modewort disse...

Sendo, se não me engano, a primeira edição do Fazendo posterior à Semana do Mar, não encontro referência à participação do Pai Tomás, e dos seus filhos, nesse relevante evento. Lamentável omissão :).

Um abraço, do meio do alentejo para o meio do atlântico.

Rui Tejo