sábado, 28 de novembro de 2009

Edição nº 27


Crónica

Impressões do Faial

Como dizia a minha mulher: "Cala-te! Não és parâmetro de nada!"

Assim o meu critério, o meu comentário sobre a cultura do Faial será necessariamente subjectivo, parcial, insuficiente, estrangeiro, digamos.O que mais me surpreendeu, ao chegar, foi a enorme diversidade, a abundância de oferta. Os faialenses gozam de uma riqueza cultural abundante e até redundante face à sua capacidade de absorção. De todos os modos a cultura inclui um vasto segmento do universo da manifestação humana e é difícil que um indivíduo alcance todo o seu espectro.Cinema, teatro, pintura, música, ciência, tradições, literatura. Não tem o dia alcance suficiente para absorver a totalidade do que se produz, do que se exibe e do que acontece. O Faial é rico, não só pela sua ampla gama de manifestações culturais, como também pelo impulso dado por algumas pessoas a partir dos diversos organismos oficiais, privados, e até a partir de manifestações individuais. Impulso este que é necessário valorizar, aproveitar e promover, para que não se perca como água em areia.


Além do mais, o contexto social, com gente de todo o mundo e influência de outras culturas, é rico por si só. Os açorianos retornados dos E.U.A., Canadá, Brasil, África e outros lugares já não vivem só a atmosfera portuguesa como trouxeram consigo outros aromas, outros modos, outra maneira de ver.


Também os estrangeiros que, encantados pela ilha, se deixam ficar por algum tempo ou decidem nela fazer a sua morada permanente, contribuem para este caldo espesso, rico, da cultura. Caso assim não fosse, seria suficiente a extensa cultura portuguesa, as tradições, as sopas do Espírito Santo, as procissões religiosas, os desfiles de motos, a vida social própria, tão ligada aos estreitos laços familiares, a curiosidade e o desejo de aprender, para manter uma dinâmica activa e variada.


Há dinheiro no Faial, há uma abundância de meios própria dos países europeus que surpreende qualquer sul-americano, africano ou terceiro-mundista. Desde o Museu da Horta, a Direcção Regional da Cultura, a Universidade, o DOP, a Biblioteca, as várias publicações, diários, revistas, o Fazendo!, cria-se uma activa gama de manifestações culturais que bastam para cobrir amplamente as necessidades a este nível. Há no entanto sempre espaço para cobrir alguns segmentos menos desenvolvidos.


É muito bom ver como diariamente aparecem exposições,peças de teatro, projectos cinematográficos, livros, concertos, e também desportos, investigação científica, conferências sobre os mais variados temas, cursos de quanto é possível imaginar, quase tudo gratuito ou a baixo custo; há realmente uma efervescência, uma abundância e uma diversidade quase irresistíveis.


É claro que para uma população relativamente reduzida, o número de participantes em cada actividade tem que ser pequeno. É também claro que o interesse de cada um, individualmente, pode ser ampliado e enriquecido com novos horizontes. A tendência para a passividade do homem deve ser removida para que possamos desenvolver outros campos que não os estritamente profissionais ou utilitários. Somos homens (em sentido genérico) e temos uma capacidade de absorção, de compreensão e de acção sempre maior do que aquela que exercemos. Este é um ponto a impulsionar; desde a educação e desde o exemplo.


Interessar-se é o primeiro passo, partilhar e suscitar o interesse dos outros, a necessária continuação. No mundo e na história da cultura humana sempre se verificou que uns poucos criam, descobrem e impulsionam o desenvolvimento, sendo esta a responsabilidade de cada um: dar o melhor de si para contribuir para o desenvolvimento social. Desde o agricultor que descobre um novo método de ordenhar as vacas ao médico que desenvolve uma vacina, desde o actor que interpreta uma obra ao comerciante que importa um produto diferente, todo o esforço criativo é uma semente que pode crescer em solo fértil: é necessário que nos façamos perceptivos, abertos, atentos, para não desperdiçar os imensos dotes que continuamente fluem junto a nós.


A Horta vive sob um fluxo de enorme riqueza cultural, é necessário apreendê-lo desde o individual e expandi-lo para o social.Poderia encher duas folhas nomeando as gentes, os grupos, as instituições que continuamente contribuem para a riqueza do Faial. Parece-me melhor que cada um faça a sua própria contabilidade, o seu próprio balanço para que se compreenda melhor a enorme extensão daquilo que é feito. Uma sociedade em que jovens e velhos, homens, mulheres e crianças têm uma ampla possibilidade de escolha cultural, deve ser aproveitada.

Pedro Solá




Colaboradores:

Fotografia da Capa: Albino
Crónica: Pedro Solá
Mini-entrevista: Aurora Ribeiro
Cinema: Aurora Ribeiro, Renata Lima
Arquitectura e Artes Plásticas: Ana Correia
Literatura: Ilídia Quadrado
Ciência e Ambiente: Victor Rui Dores


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sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Tertúlia do Mar - Dia Nacional do Mar



A Associação Cultural Fazendo em parceria com a Ecoteca do Faial e o Gabinete para os Assuntos do Mar organizará uma tertúlia no próximo dia 16 de Novembro, Dia Nacional do Mar. Esta tertúlia, que terá lugar no Clube Naval da Horta, às 18h00 do dia 16, ocorre no âmbito do Fórum Permanente para os Assuntos do Mar, uma plataforma insititucional que pretende excitar, na sociedade civil, a discussão e o desenvolvimento de acções relacionadas com o mar. A discussão será moderada pelo Prof. VÍtor Rui Dores e contará com representantes da Secretaria Regional do Ambiente, D.O.P., Clube Naval da Horta, antiga Indústria Baleeira, actividades piscatórias e marítimo-turísticas, Museu da Horta e actividades de consultoria marinha assim como a participação da população em geral.

O Fórum Permanente para os Assuntos do Mar (FPAM) é um mecanismo institucional de nova geração com carácter necessariamente experimental, visando ser uma voz credível da sociedade civil sobre Assuntos do Mar. Com enquadramento na Estratégia Nacional para o Mar - documento que adopta uma política integrada e abrangente na governação de todos os assuntos do mar - reflecte a importância atribuída ao diálogo como elemento de referência para o sucesso deste projecto nacional. O Fórum pretende estimular a troca de informação e a promoção de acções relacionadas com o Mar, numa perspectiva abrangente. Procura-se, desta forma, que o FPAM constitua uma plataforma informal entre o governo, a sociedade civil e os parceiros sociais, numa perspectiva de responsabilidade partilhada. É igualmente objectivo do FPAM estimular a recolha, troca e disponibilização de informação, com vista a implementar um sistema de gestão de apoio às actividades do Fórum, bem como servir os parceiros sociais neste domínio.

No âmbito do FPAM está prevista a criação de grupos de trabalho temáticos e de núcleos/redes, nomeadamente nas Regiões Autónomas dos Açores (RAA) e da Madeira, que são considerados elementos para o desenvolvimento a nível nacional das funções atribuídas ao FPAM, à escala nacional. De facto, durante a Semana do Mar de 2008 foi realizada, na cidade da Horta, uma Reunião dos Membros da RAA, que contribuiu para a dinamização do Núcleo/Rede e para o envolvimento da Região nas actividades do Fórum.

Edição nº26


Crónica

A relevância do Mar

Dentro de alguns dias comemora-se em Portugal o Dia Nacional do Mar. Para além da tradicional evocação de um passado glorioso, as comemorações dos tempos de hoje passaram a estar viradas essencialmente para o futuro. Uma das causas principais para essa mudança de sentido foi exactamente a sensibilização da opinião pública portuguesa decorrente da Exposição Mundial de Lisboa “Os Oceanos – Um património para o futuro da humanidade” realizada em 1998. Poucos anos depois, em 12 de Dezembro de 2006, o governo português elaborava a Estratégia Nacional para o Mar (ENM), que reconhece o mar como um dos principais factores de desenvolvimento do País, se devidamente explorado e salvaguardado, e relevando o facto de Portugal dispor da maior Zona Económica Exclusiva (ZEE) da União Europeia e de uma Plataforma Continental em vias de alargamento. Entretanto, na “Introdução” à referida ENM é salientado que as Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores apresentam importantes mais-valias estratégicas e potencial desenvolvimento de actividades económicas relacionadas com o mar.


Ora, neste contexto, parece oportuno referir que entre as mais-valias dos Açores, as da ilha do Faial se apresentam particularmente relevantes. Com efeito, a própria história da ilha acaba por resultar da dupla vantagem oferecida por uma ampla e abrigada baía colocada estrategicamente no meio do Atlântico Norte.


Assim, já nos séculos XVI e XVII foi importante o papel do porto da Horta no apoio às frotas da Índia e do Brasil, apoio que depois se alargou à navegação do Atlântico Norte e já nos séculos XVIII e XIX, às próprias frotas locais que transportavam urzela, laranjas e vinho, tanto para a Europa como para as Índias Ocidentais e os Estados Unidos da América. E foi também por ser seguro que, durante o século XIX, se tornou no maior porto baleeiro do mundo, ao acolher a grande frota baleeira dos Estados Unidos da América.


Depois veio a construção da doca, dando aí melhores condições aos homens do mar e iniciou-se o ciclo do carvão, com o estabelecimento de grandes depósitos, que estiveram sempre muito activos até ao aparecimento do óleo que ditou o encerramento dos armazéns da cidade já depois da Primeira Grande Guerra.


Entretanto tinham sido amarrados nas baías da Horta e de Porto Pim cabos submarinos para ligações telegráficas entre a Europa e a América, pertencentes a companhias de nacionalidades inglesa, alemã e americana e que trouxeram ao Faial centenas de jovens operadores, uma grande parte dos quais acabou por casar e fixar-se no meio. Mais tarde, já nos anos 30, foram os excitantes anos da aviação com a competição para a Travessia do Atlântico, com escala na abrigada baía da Horta. Por aqui estiveram em ensaios porfiados a americana Pan American com os seus famosos Clippers, os alemães da Lufthansa, que usavam catapultas na descolagem dos hidros, mais os ingleses da Imperial Eagle e os franceses da Air France. Embora os alemães tivessem conseguido fazer viagens experimentais com sucesso, foram os americanos os vencedores desta extraordinária corrida e mantiveram voos normais entre 1939 e 1945, ano em que acabou a Segunda Grande Guerra.


Ao mesmo tempo, o porto da Horta, tal como já acontecera na Grande Guerra de 1914-1918, serviu de Base Naval para a Home Fleet prestando um inestimável apoio na guerra anti-submarina e, portanto, ajudando os Aliados a ganhar a guerra. Evidentemente, veio depois o declínio para o porto da Horta, que não pôde acompanhar as mudanças operadas com o fim do carvão e a opção pelos óleos, o que acabou também por causar o fecho das suas famosas oficinas de reparações navais.


Mas a seguir chegaram os grandes rebocadores holandeses da companhia L. Smit’s, que passaram a fazer base no porto, à escuta dos pedidos de socorro de navios em dificuldades no Atlântico.


Por fim, a pouco e pouco, começaram a aparecer no porto as velas de pequenos iates, que o vulgo apelidava, apropriadamente, de “aventureiros” e que neste último ano representaram perto de 1300 entradas, tornando a Marina da Horta numa das mais frequentadas a nível europeu e mesmo mundial, como marina de passagem. Toda esta preferência pelo porto da Horta representa, acima de tudo, o reconhecimento prático das suas condições estratégicas e de segurança.


Porém, a melhor prenda dos últimos anos acabou por ser a escolha da Horta para sede do Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores, centro de investigações reconhecido internacionalmente como excelente e por onde têm passado investigadores e estudantes de pós-graduação oriundos de todo o mundo. Hoje, com novas e amplas instalações prontas a ser inauguradas e que vêm proporcionar muito melhores condições ao seu trabalho, são de esperar outros desenvolvimentos.


É por isso que nesta comemoração do Dia nacional do Mar, mais do que a evocação do passado, devemos preparar o futuro. E parece haver razões para pensar que, como sempre, o futuro da Horta ficará intimamente ligado com o Mar.

Mário Frayão



Colaboradores:

Fotografia da Capa: Jorge Góis
Crónica: Mário Frayão
Música: Pedro Monteiro
Cinema: Aurora Ribeiro

Arquitectura e Artes Plásticas: Ana Correia, Tomás Silva
Literatura: Ilídia Quadrado
Ciência e Ambiente: Fernando Tempera, Íris Sampaio, Pedro Ribeiro


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terça-feira, 3 de novembro de 2009

Edição nº25



Crónica

Faial Filmes Fest


Tenho uma amiga que me pergunta frequentemente:
então, como é que está a correr? - referindo-se ao processo
de preparação do V Faial Filmes Fest – Festival de Curtas das
Ilhas. Respondo-lhe invariavelmente, com uma espécie de
suspiro: não sei. Acontece o discernimento acanhar-se diante
do emaranhado de coisas para ontem, coisinhas miudinhas e
outras demasiado grandes, telefonemas, emails, cartas, fortunas,
revezes… e até da matreira sorte.
A construção do Festival de Curtas das Ilhas processa-se assim,
entre o caos e a harmonia, entre a razão e o coração, com
uma pitada de sorte; entre a vontade de ultrapassar as
contrariedades e a raiva delas, feita energia para encontrar
soluções e enfrentar os desafios em frente, mas sobretudo
com a alegria de ver as peças encaixarem-se, por força do
trabalho, do querer e do crer – nosso e dos que connosco
partilham este projecto, apoiando-o financeiramente ou
facilitando procedimentos e abrindo caminhos.
O Faial Filmes Fest 2009 abre com uma declaração da força
da conjugação de todos esses factores: um ano depois do
desafio avançado por um dos oradores da homenagem a Dias
de Melo (que deu o arranque à edição de 2008) aos realizadores
presentes, eis que um documentário sobre o escritor açoriano
nos vem “parar às mãos” e assentar como uma luva de plica
mágica na primeira Sessão Especial da edição deste ano! Não
podíamos desejar melhor prenúncio para o arranque do Festival
e ele repercute-se nos dias seguintes, no expressivo conjunto
de filmes que compõem as sessões especiais e de competição.
Nas 45 curtas-metragens da Selecção Oficial contam-se, além
dos nacionais (incluindo Açores e Madeira), pela primeira vez,
filmes das Canárias e de Cabo Verde, que responderam à
abertura do Festival às cinematografias da Macaronésia – esse
conjunto de realidades insulares paradoxalmente tão disperso
de si mesmo e que pretendemos reunir no cinema, conferindo
maior dimensão ao enunciado “Festival de Curtas das Ilhas”.
Ao longo de 3 dias estarão em exibição as mais recentes
produções nacionais e regionais de curta-metragem; filmes
premiados em festivais de cinema de renome e outros que
premeiam a criatividade.
Fora de Competição, o FFF’09 apresenta um conjunto de 7
filmes que estabelece uma ponte entre os primeiros passos do
“cinema novo” português e o cinema da nova geração de
cineastas nacionais, com uma passagem pelo FFF’08 e um
pequeno segredo a ser desvendado ao vivo, no Cine Teatro
Faialense.
Por tudo isto e muito mais, a 5ª edição do Faial Filmes Fest
anuncia-se mais rica em diversidade e conteúdo, sólida e
coerente - e mais dedicada ao público e ao próprio Cinema.
Agora sim, podemos afirmar: está tudo a postos. Venham as
pessoas – muitas pessoas – e a festa do Cinema no Faial ficará
completa!
Renata Lima

Colaboradores:
Ilustração: Isabel Sampaio
Crónica: Renata Lima
Arquitectura e Artes Plásticas: Ana Correia, Eduardo Carqueijeiro, Marco Silva
Ciência e Ambiente: Dina Dowling, Hugo Diogo e Pedro Monteiro
Gatafunhos: Tomás Silva

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